A alma que nos cabe

[Paulo Brabo.A bacia das almas.]
"Ao embarcarmos nessa jornada em busca de um coração que abraça o mundo,nada mais natural que dedicar a atenção ao mundo que se deve e se quer abraçar:suas dores,imperfeições,mazelas e males,e suas gentes sofridas e vitimadas,ou cruéis,malvadas,violentas e indiferentes.Mas é fato que a tentação de se atirar na direção do mundo a ser abraçado sem a devida atenção ao coração que pretende abraça-lo compromete a missão.É bom lembrar que também fazemos parte da multidão que queremos abraçar.Talvez seja esse exatamente o segredo da missão,abraçar a si mesmo no abraço ao outro,vendo o outro não como estranho, mas um igual;ver o outro não como uma alma a ser salva,mas reflexo da própria alma que pretende ser instrumento de salvação.O outro não é outro senão eu mesmo fora de mim.Nele me vejo.Em sua alma a ser redimida enxergo a mim mesmo,também carente de salvação.Descubro no ato de abraçar que a verdadeira alma a ser salva é a minha.
Somente assim,nessa confusão;comunhão dos abraços,percebo que o mundo que pretendo e desejo abraçar não é um mundo construido apenas pelo outro que outrora eu pretendia salvar,nem tampouco um mundo estranho que é presciso transformar.O mundo passa a ser expressão de mim mesmo;sou eu também responsável pela feiúra do mundo que pretendo tornar belo.Antes de tentar abraçar o outro e seu mundo,somos chamados a encarar o mundo e o outro como quem olha um espelho:ver a nós mesmos e o mundo que ajudamos a construir.Assumir o desafio perene que a verdadeira alma que nos cabe é a nossa mesma."

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